Suicídio por amor...



Pode parecer uma expressão romântica e bonita. No entanto, não passa de uma justificativa imbecil para covardes fugirem da realidade.
Luíza nunca foi uma garota dos meus sonhos... Digo, não era o tipo de garota que eu imaginava para mim, mas foi uma garota por quem me apaixonei.
Sua personalidade extrovertida e suas atitudes malucas eram algo que eu admirava no inicio. Sua vida era uma loucura...
Luíza vivia em alta velocidade...
Não no sentido real da expressão; ela nem ao menos sabia dirigir. Mas suas noitadas eram tão agressivas que assim como um carro em alta velocidade, poderia a qualquer momento perder o controle e capotar, bater ou cair em algum penhasco. Seus excessos estavam pondo nossas vidas em risco...
E talvez este risco seja o que tenham apimentado nossa relação... No inicio.
Mesmo sabendo que estava me envolvendo em algo perigoso... Eu me apaixonei... Eu a queria mais que tudo.
Apaixonar-se... Lu não foi a primeira e provavelmente não seria a ultima por quem eu me apaixonaria enquanto estivesse vivo, mas foi alguém por quem me apaixonei perdidamente...
Eu descreveria o ato de apaixonar-se como um pequeno passo em direção à morte... Seria como acrescentar mais uma palavra em uma carta de suicídio.
Sinto a cada vez que me apaixono que tudo vai terminar de maneira trágica e deprimente para mim. E, morrerei mais um pouco por dentro.
Cada mulher por quem me apaixono leva consigo uma parte de mim... Uma parte de minha vida... Um pedaço de meu coração. Assim tem sido desde a primeira vez que me senti sob os encantos da beleza feminina... Desde que descobri minha fraqueza pelo sexo oposto... Lembro-me de todas as paixões... De todas as vezes que morri mais um pouco. Morrendo aos poucos, seria esta a descrição dos amores que terminam e me deixam. Embora elas não imaginem que seus sorrisos estarão sempre em minha memoria provocando saudades e tristeza, por saber que todas as coisas nesta vida estão destinadas a me abandonarem. Eis o preço a pagar por amar... Por apaixonar-se.
Eu sinto o cano frio do revolver cortando o céu da minha boca. Sinto gosto de sangue e metal... Sinto-me traído... Sinto-me atado...
- Não será apenas uma morte... Será uma passagem para o outro lado. Tudo vai acabar... Seremos felizes!
Uma das ilusões dos suicidas: Puxam o gatilho imaginando que estão solucionando um problema: sua vida. Isto pode não ser uma solução e o problema pode não ser sua vida, mas suas atitudes e decisões erradas... Sua obsessão por algo que não lhe pertence.
Obsessão. Um sentimento incontrolável que adora se fantasiar de Amor, paixão... Um sentimento que nunca mostra sua verdadeira face; A obsessão manipula pessoas como marionetes.
Então imaginam que a morte poderia saciar sua obsessão... Imaginam que a morte o levaria para um mar de realizações...
Não há garantias de que não estejam se envolvendo em um problema muito maior. Não há provas de uma vida além... E se houvesse, seria um inferno... Um inferno para os covardes. Um ambiente desolado, sombrio... Um inferno solitário e frio...
Uma eterna solidão...
Não há como saber!
-Não é uma morte... É apenas uma passagem para outra dimensão mais favorável ao nosso destino. Seremos lembrados aqui, mas este mundo não é real...
Meu pau é real para você? Você já gozou sobre ele... É o que eu diria se este maldito revolver não estivesse travando minha língua.
Tento empurrar o cano da arma com a língua para o lado direito da boca. É inútil!
Alguns anos de bebedeiras, drogas e alegrias excessivas somadas a uma personalidade enfraquecida podem causar essas coisas.
Estamos em uma cabana à beira mar. ouço as ondas quebrando na praia... Ela ri histericamente como se estivesse delirando... Hoje o mar está muito agitado.
Eu só queria deixa-la...
Suas gargalhadas agudas se tornam em choro.
Seguir esta estrada de chão, repleta de lama e pedras... Contornada por mata... Caminhar por esta estrada sem transito, sem pessoas... Deserta e esquecida... Caminhar por esta estrada até esquecer o quanto me odeio. Até esquecer...
Eu sei que ela poderia disparar a qualquer momento.
Arrancaria a parte superior do meu crânio e espalharia meu cérebro pela parede logo atrás de mim. A estrada está em uma direção paralela à praia... Imaginei que em um lugar afastado eu poderia ajuda-la a se livrar de todas essas loucuras. Mas eu não posso salvar ninguém; eu não posso nem salvar a mim mesmo...
Os moradores mais próximos estão a 4 km de distancia seguindo a estrada de chão. Se for caminhando pela praia poderia chegar até lá em 20 minutos...
Eu tento, outra vez, empurrar a arma com a língua para o lado direito da boca.
Ela nunca foi uma garota fácil de lidar. Eu não consigo falar. Só saem as vogais.
Escuto o som das ondas quebrando na praia.
Larga a arma ao lado como se fosse um brinquedo inútil e começa a chorar freneticamente.
Eu levanto da cadeira.
Pego a arma e tiro toda a munição. Caminho pela porta que está aberta e caminhando pela areia chego próximo da agua, atiro-a em direção ao mar...
Lu permanece no meio da cabana, sentada, chorando como uma criança... eu não quero mais esta vida, ela grita entre soluços.
Esmurro a parede até adormecer minhas mãos.
Sento-me ao seu lado e abraço seu corpo encharcado de suor e lagrimas.
Ela ainda continua chorando freneticamente.

- Eu vou te deixar... Você precisa se encontrar por si mesma...
- Não... Eu vou mudar... Podemos caminhar em direção ao mar; morreremos assim.
- Não mude por mim. Eu nunca pedi isso. Mude por você!
Uma estrada que parecia não ter fim.
Eu estava sozinho novamente. Seguindo uma estrada solitária... Tão solitário quanto estive durante a minha vida toda.
Chovia muito.
Estar ao lado de alguém que não lhe completa parece ampliar a solidão...
O vento forte deixava o mar muito agitado.
Uma romance não é fonte de felicidade. Amar não é sorrir...

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