Mais uma poça de sangue...



Não sou mau nem bom, apenas me vejo como um homem de razões. Razões que defendo com chumbo, a lâmina do facão, minhas mãos ou, meu próprio sangue. Assim sou eu... Não sou valente, mas não posso me dar ao luxo de aceitar ameaças de maneira pacífica. Sou um homem de orgulho. Assim tenho sido desde menino e, assim continuo depois de velho. E a vida continua, ao menos para mim.
Lembro-me de um velho amigo mexicano, morto há alguns anos no sul do país. Este também era outro homem sem rumo... Uma mulher quebrou seu coração e, acabou por perder a cabeça. Dizia-se um coiote sem rumo. Não faço ideia de que bicho seja um coiote, pois nunca vi algum na minha vida...
Bato o pequeno copo de cachaça no balcão. Não contraio os músculos do rosto, nem expiro de maneira sonora demonstrando o gosto forte da aguardente, mas sinto meu rosto ficar quente e provavelmente corado. Não estou comemorando, estou apenas bebendo e refletindo... Eu prefiro uísque. Bebida importada e cara... Meus braços se apoiam sobre o balcão como se estivesse tentando abraçar o copo. Não tiro o chapéu. Não olho para os lados. Não procuro por amizade. Cavalguei solitário por muitos dias. Estive viajando por este mundo afora... Sem parar em botecos. Sem dormir sob um teto... Acho que é disto que eu preciso... Pago a bebida e me levanto. Ainda tenho um desgraçado para caçar.
Massacrou uma família de agricultores a oeste e estuprou algumas jovens, deixando-as quase mortas. Mas vivas o suficientes para me descrever este cão. Este dias descobri que sou alvo da policia: acusado de assassinato. Querem me punir por tirar-lhes o trabalho de varrer estas escorias da face da terra. Que o façam, já não me importo com isso. Nunca sei o nome destes animais. Basta-me serem descritos. Basta-me saber que roupas usam... Ficam meses sem trocar suas roupas ou banhar-se.
Saio à porta... Acendo tranquilamente um palheiro. Aqui o cheiro de suor é menos intenso.
Está trovejando alto...
Um Homem, de poncho e chapéu pretos, segue-me do bar. Com suas mãos sob o poncho, pisando firme e me olhando de soslaio... O que tu faz por estas bandas, pergunta-me de maneira direta, estranhos não são bem não são bem vindos em nossa terra.
Recuso-me a levantar os olhos para ver seu rosto, não passa de um peão invocado que se sente mais valente pelo excesso de álcool; imagina ser dono destas terras por ser o favorito de seu coronel. Não vou me dar ao luxo de retruca-lo; seus companheiros então no bar. Embora, pelo que eu tenha visto, estão tão bêbados que não conseguiriam nem levantar das mesas.
Começa a chover forte e continua trovejando muito...
Tento ignorar a provocação virando-me de costas e, ao meu segundo passo, o peão faz um movimento brusco. Sem rodeios, puxo minha arma engatilhada e acerto seu peito. Pulo para o lado, girando no ar e caindo deitado de lado, mas voltado de frente para o mesmo. Puxo o gatilho de uma segunda arma, acertando a parte superior de seu rosto... Ele não era tão rápido quanto imaginei.
Espero que alguém saia do bar para ver o que houve. Engatilho novamente...
Por alguns segundos eu vejo o pavor da morte em seus olhos. Em sua mão direita, pende um revolver ainda sem engatilhar. Seu chapéu caiu atrás de si e agora vejo seu rosto sob a fraca luz que vem das frestas da parede do bar. Possui um cabelo negro espesso e a barba por fazer. É apenas um jovem. Acaba de perder a vida por nada. Cai de joelho e, depois de cara na poça de lama que, em breve, vai misturar-se ao seu sangue. Os trovões devem ter-se misturado ao som do tiro e ninguém percebeu ainda o que houve. Não tenho muito tempo. Subo no cavalo e adentro a mata, seguindo a mesma trilha pela qual cheguei. Mais uma poça de sangue por atitudes estúpidas..
Ainda tenho um desgraçado para caçar...

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