Espelhos e Calcinhas


- E aí Pedrão? Trouxe espelhinho?
- Sim, eu trouxe três.
Sorrisos se abriram. Pedrão, Oliver e Julinho... O trio que tocava o terror na quinta serie. Não eram os piores, mas toda semana surgia uma ideia nova. Desta vez era o espelhinho. Durante o recreio a gente põe o espelhinho no peito do pé e vê as calcinhas das meninas, planejavam... Num tempo em que ninguém ainda havia tido a infeliz ideia de por shorts por baixo...
- Vocês viram a calcinha da Andressa? Caralho, a calcinha dela está na soca, nem aparece direito de tão cavada...
- Eu vi a calcinha da Michele... Calcinha enfeitada de ursinhos... Eu disse pra ela que adoro ursinhos, mas ela não entendeu. E a outra Michele, vocês viram? Ela tem a maior bunda da turma!
- Eu já vi de todas. – Pedrão ri. – vocês são muito medrosos! Tem medo de chegar perto delas.
- Ei Pedrão. Por que você não vai às meninas da oitava serie?! Quero ver se você tem coragem de ir lá.
- Eu vou mesmo! Quer apostar? Cinquenta bolinhas de vidro.
- Aceito. Eu duvido!
Lá se foi Pedrão para o outro lado do pátio, mostrar sua ousadia. Oliver e Julinho acompanhavam a distancia...
- Nossa, ele foi mesmo...
- Acho que ele vai apanhar delas... Elas vão descobrir...
De repente um alvoroço. Gritos de meninas. Tarado, sem-vergonha, algumas xingam... Então aparece Pedrão correndo com tudo do outro lado do pátio. Se pegarem ele vai assinar o livro negro pela terceira vez; Isso é mal; dizem que a gente pode até ser expulso depois que assina o livro três vezes. E continua correndo.
Pedrão tropeça em um degrau de calçada e caí de peito e cara no concreto. Quem vê aquele corpo arrastando-se alguns centímetros no concreto sente até um calafrio. Seu corpo fica imóvel, desmaiado... Uma pequena poça de sangue se forma. Pode-se ver um corte profundo na testa de onde jorra sangue e um corte feio nos lábios. Os alunos formam um circulo ao redor de Pedrão desmaiado. Quando a ambulância chega e o põem na maca, pode-se ver que suas mãos estão esfoladas e a parte frontal de sua camisa rasgada mostra o peito com a pele arrancada. Seus joelhos estão em carne viva.
No hospital recebe visitas.
- Poxa, que vacilo cara.
- Pois é. A gente se sentiu culpado por você. Por você saiu correndo daquele jeito?
- Sei lá. – fala com dificuldade devido ao corte na boca. – elas me pegaram no flagra. Eu fiquei desesperado e sai correndo...
- Que coisa hein?! - diz Oliver. – lembra-se daquele dia que a Daiane me pegou? Levei uma tapa tão forte nas costas que fiquei sem folego o resto do recreio!
- É mesmo! – todos riem.
Silencio. Não sabem o que falar. Sentem-se desconfortáveis.
Pedrão desabafa:
- Pelo menos não tive que assinar o livro negro outra vez.

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