Deja Vu...


Uma destas cidadezinhas no meio do nada. Cercada de cactos, areia e seca. Uma parada para matar a sede do cavalo e talvez comprar outra garrafa de bebida. Lugar pacato. Pessoas simples tentando sobreviver contra a hostilidade da natureza.

Entro em um provável bar, ou mercearia, ou seja lá o que for, tinha de tudo ali. Peço uma bebida e pergunto sobre onde poderia conseguir um banho e hospedagem por uma noite...


 Ainda não havia anoitecido, mas o sol já estava se pondo após um longo e quente dia. Saio à porta do bar e, vejo a minha frente aquela mulher. Uma mulher no mínimo diferente. De uma beleza tão simples e natural que me enfeitiçou. Estava com um vestido velho que parecia ser feito de trapos; o vestido era de uma cor encardida. Cabelos e olhos negros, sua pele um pouco castigada pelo sol, jovem e de uma feição quase perfeita. Seu cabelo solto ao vento causava-me qualquer sensação de espontaneidade que não via em outras mulheres. Trocamos olhares... Confesso que neste momento senti como se já a conhecia. Aquele olhar não era estranho para mim. Mas conheceria alguém deste fim de mundo?

Estas pessoas provavelmente nunca viajaram na vida... Ela apenas baixou os olhos e continuou caminhando com suas trouxas de roupas sob o braço. Apenas crianças encardidas brincavam pela rua. Outras carregavam um balde de agua para suas casas. Agua que buscavam em um poço fora da vila.

Comecei a segui-la. Seus quadris moviam-se harmoniosamente. Estava com os pés descalços, mas isso lhe deixava mais encantadora ainda. Entrou em uma das casas de madeira. Grande por sinal. Entrei no armazém a frente da casa. Comprei um doce qualquer, sentei-me a porta e esperei alguns minutos. O vendedor já havia ido para os fundos. Estava tudo muito calmo. Apenas vozes de crianças brincando ao longe.

Decidi bater à porta. Vá para o inferno, uma voz de mulher grita. Então arrombo com um chute, mas sem quebra-la. Entro e fecho-a. Vejo-a se masturbando em um canto da casa. Espero por um grito... Mas não grita. Em silencio, com a respiração ofegante olha-me com cara de safada sem parar o movimento de sua mão. Seus cabelos molhados indicavam que ela acabara de sair do banho. O que me pareceu uma surpresa. Ela de fato não pertencia àquele lugar. Mesmo disfarçando e tentando parecer tão humilde quanto os demais habitantes.

Caminho em sua direção:


- Saia daqui, seu filho de uma puta! – agora grita.


Dou-lhe um tapa na cara e, ela cai da cadeira.


- Puta!


Levanta-se. Puxo-a pelos quadris e lhe dou um beijo. Ela se envolve e pede mais. Empurro-a e vou ao armário me servir de conhaque que viro em apenas um gole enquanto ela caminha para outro cômodo da casa.


- Você me esqueceu! – ela grita. – Continua o mesmo canalha de sempre.


- E você me largou pra morrer! – Penso alguns segundos, porque na verdade ainda não me lembro dela. – O que você está fazendo aqui? Não há muitos homens ricos para serem enganados nesta cidade. Se é que posso chamar de cidade.


Imagino que seja uma golpista que tenha conhecido em outra cidade.


- Estou casada...


Dou uma gargalhada.


- Mas sinto sua falta...


Pego-a pelos cabelos, rasgo seu vestido a partir da gola e descubro que não usa roupas intimas. Seus seios eram firmes e arredondados. Parecia moldada a mão. Chupo seus peitos, beijo-a novamente enquanto aperto sua bunda, a jogo sobre a cama. Como pude esquecê-la? Talvez nunca a tenha visto nua.

Quando estou me vestindo, ouço passos...

Alguém entra.


- É meu marido!


- O que? Vou mata-lo.


- Não! Eu gosto dele.


- Tudo bem!


Coloco o chapéu, engatilho as pistolas e saio pela porta da cozinha. Ela colocou outro vestido encardido. Sem roupas intimas.

Acendo um cigarro e caminho em direção ao bar quando me aparecem estes dois sujeitos: um velhote barbudo com cara de sacana mascando fumo e um cara novo de barba feita. Parecia um rostinho de mulher com aquela pele lisa. Ele tinha um sorriso imbecil. Senti vontade de avançar e esmurrar os dois, principalmente o mais novo. Mas estavam armados. O que mudava toda a situação.


- O que você estava fazendo na casa do...? – pronunciaram um nome que não me lembro.


- Não é da sua conta, pirralho! Vá brincar com suas bonecas. – disse meio irritado.

O velhote se pôs a minha frente me impedindo de continuar. Isto me irritou. Poxa, não poderiam apenas deixar-me seguir meu caminho?


- Acho que vou atirar no seu filhote ali... – o velhote riu.

Fique a vontade. - e começou a gargalhar de novo.


- Virei-me para o imbecil. Ele já estava com um revolver a mostra.


- Vai me matar, viajante?

Pôs a mão sobre o revolver, mas rapidamente puxei o velhote como escudo, peguei sua própria arma e atirei. Então sai caminhando em direção ao bar deixando dois corpos no chão. Em poucos minutos o vento lhes cobriria de poeira. Bom, na verdade o velhote estava só desmaiado de susto. [Vai entender estes valentões de hoje em dia!]


Volto para a casa dela e sou surpreendido com um sujeito apontando uma arma para mim. Movido pelo próprio susto, torço sua mão com a arma e com a sola do pé em seu peito empurro-o de modo que ele cai deitado ao chão. Mal deu tempo para me abaixar e uma sequencia de tiros em minha direção. Eu pulo para fora da casa e disparo para algum abrigo próximo.

Poxa, imaginei que ela fosse a vitima. Na verdade, agora sua cara de brava fez eu me lembrar de uma garota. Mas não é algo certo. Eu matei seu cavalo, mas nem foi de proposito e ela disse que vingaria. Na época eu fugi porque ela estava furiosa, mas então acabei esquecendo. E, já se passaram dois anos. O problema deste mundo é que as mulheres, em sua grande maioria, são vingativas – eu já havia até esquecido desta cagada. Então a reencontro mais linda que nunca e ela tem que me lembrar disso. Ou não, talvez seja só outra maluca que eu tenha conhecido posa aí.

Eu só gostaria de saber por que ela está em uma cidadezinha tão humilde fingindo-se de pobre. Mas não pretendo voltar lá para perguntar. Pelo contrario, eu vou fugir de novo. Não costumo agredir mulheres, mas também não vou esperar que elas me amem mais por isso.


Encontro três meninos e dou-lhes uma nota de cinquenta para cada. Explico-lhes a situação e espero que levem minhas coisas do hotel para fora da cidade, onde vou esperar. E prometo mais cinquenta de cada depois que me entregarem as coisas. Pode não parecer, mas estamos falando de muito dinheiro.

Inexplicavelmente, eles conseguem. Trouxeram todas as minhas coisas. Paguei-lhes a outra parte e imediatamente saltei sobre o cavalo disparando em direção ao sul. Não perderia meu tempo questionando sobre como conseguiram.


Eis mais um acontecimento que ficou confuso para mim também. Narrei os fatos como me lembro de que aconteceram, mas talvez eu tenha me enganado em algum detalhe. E, existem questões que eu também gostaria de ter as respostas. Acredite se quiser, mas a parte onde conto a que sobrevivi é verdadeira.


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