Eu a encontrei seminua em meu quarto. A única iluminação vinha da janela que fazia uma quadrado de luz sobre o colchão que não refletia e tudo em volta deste quadrado era oculto. Você demorou, achei que ficaria na mão de novo – ela dizia com sua voz em tom sexual. Suas pernas eram lindas: Bem torneadas, lisinhas, pele macia e cheirosa... apenas suas pernas e quadris eram iluminados pelo quadrado de luz. Nunca lhe dei o endereço, todos os encontros haviam sido finalizados em sua casa, em seu quartinho bem arrumado, quando seus pais não estavam .
Eu morava em um microapartamento semimobiliado: uma cozinha com a geladeira vazia, fogão coberto de gordura, um cadeira velha e uma pia sem louça suja (porque não havia louça para sujar), apenas uma copo e uma colher e um panelinha – não precisava de mais do que isso. O banheiro onde só caberia uma pessoa e um quarto de dois metros quadrados com um colchão sem lençóis no piso. Não havia roupeiro, então minhas roupas eram penduradas em pregos e as cuecas e meias guardadas em caixas de sapatos, o resto ficava pelo chão mesmo. Enfim, não era lugar para trazer visitas e muito menos para trazer uma garota. Você não deveria ter vindo aqui! Porque? Você não gostou da minha surpresa? - ela me entendeu errado. Não é isso, é que este lugar está muito abaixo do seu nível - tento lhe explicar – Nunca traria alguém aqui, tenho vergonha deste lugar.
A verdade é que este lugar era onde eu me escondia do mundo, das pessoas, das mentiras. Era o meu espelho. Era onde eu me encontrava, me via... Era onde eu refletia sobre minha vidinha medíocre e sobre minha inferioridade. Minha vida solitária e meu passado de arrependimentos me esperavam ali, todos os dias...
Não acendi as luzes, apenas larguei a mochila e fui em sua direção. Beijei-lhe os pés e ela deu risinhos reclamando das cócegas. Continuei beijando suas pernas e avançando até chegar próximo à sua virilha, enquanto ela dava risinhos ou pequenos gemidos, sua voz me excitava. Acho que sua calcinha era branca, mas não lembro direito. Agora meus olhos já estavam se acostumando ao escuro, então aproximei-me de seu rosto e seus olhos pareciam brilhar. Seus cabelos estavam soltos e cheirosos como sempre. Ela é perfeita, pensei comigo, o que eu poderia oferecer a ela? O que ela quer de mim? E não encontrei resposta. Este quarto era onde eu pensava demais, era onde eu pensava sobre merecer e não merecer. Acredito que isto possa matar o sucesso de um homem: quando ele pensa que não merece algo, ou que não tem competência para tê-lo, o seu fracasso está determinado. Mas esta foi uma das melhores noites que tivemos juntos.
Ela sumiu por algumas semanas e quando finalmente a encontrei, me disse que aquele era meu presente de despedida. Nunca mais nos reencontramos.