Eu registrava já meu terceiro livro de poemas que não
venderia nada. Assim como meus contos que jamais se classificaram em qualquer
concurso literário. Objetivava escrever um romance, mas me faltava o desejo romântico
de me apegar a uma historia um personagem. E a garota que havia transado comigo
há duas semanas, andava me ligando, mas eu não queria me envolver. Não é fácil
ver a idade avançar, se olhar no espelho e ver um aspirante a velho sem
qualquer perspectiva de sucesso. Então, sorrir, beber e fingir que a vida é uma
festa, serve pra enrolar um pouco, mas a realidade sempre acaba voltando quando
você se olha no espelho pela manhã! Eu poderia foder meio mundo que continuaria
me vendo como um fracassado. Eu fazia o que gostava, mas ninguém gostava do que
eu fazia. A vida não era ingrata comigo, eu que fui ingrato com as
oportunidades oferecidas. Talvez o fato de ser antissocial, de não gostar de
aparecer. Você tem que divulgar, era o que me diziam, mas eu nunca o fazia. Na
verdade, tinha um pouco de vergonha, eu acho. Transava com garotas que sequer
sabiam o que eu fazia da vida. Aliás, nunca lhes perguntava o que faziam da
vida, para evitar que me perguntassem o mesmo. Garotos, muito mais jovens que
eu, estavam se dando bem. Teve até um escritor de merda, um garoto, que
apareceu na TV e tudo. Ele admitiu que já se usou de poemas pra conquistar
garotas. Achei a ideia mais estupida do mundo, mas acabei tentando fazer o
mesmo na noite seguinte. Era uma garota bêbada e teria transado comigo
independente do que eu dissesse. Acho que foi a única vez que fiz isso. Acredito
ser um artifício desnecessário, me sinto um robozinho ridículo ao recitar
versos. Muitas coisas nessa minha vida são inconclusas...
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