Um quarto imundo
Era um colchão de casal jogado no canto do quarto. Velho, com manchas
de vinho barato, de molhos e sabem-se lá quantos outros fluidos. Eu costumava
colocar um lençol ao dormir, mas ele sempre sumia quando eu acordava. Assim
como as garotas que se deitavam comigo, que embora não fossem muito importantes, me agradaria se amanhecessem comigo, porque sempre gostei mais de fazer
sexo pela manhã, quer dizer, ao acordar. Raramente conseguia acordar antes do
meio-dia.
Confesso que não entendo esse habito em fazer sexo à noite, no fim do
turno, antes de dormir. Este é o pior momento pra mim, por que no fim da noite
já estou um trapo, cansado, com sono e querendo ficar quieto na minha. Mas,
regras são regras, né?! E, se as garotas preferem à noite, que seja feito à
noite.
Tentei colocar uma cama no quarto algumas vezes, mas rangiam, ficavam
“bambas”, batiam na parede quando estava transando, acumulava roupas sujas e
objetos sob ela, eu tropeçava na quina e isto sempre me incomodou. Então larguei
a ideia da cama e deixei apenas o colchão. O lado bom é que o chão (assoalho)
era de madeira. O chão era de madeira, numa casa de madeira (invadida por
cupins) e isto salvava da umidade que poderia causar mofos tanto no colchão
quanto nas roupas. Eu quase me esqueci de falar que também não tinha roupeiro.
Tinha um criado mudo, mas as gavetas estavam quase sempre vazias. Eu não tinha
tempo e nem concentração para dobrar e guardas as roupas. Ficavam pelo chão
mesmo ou penduradas na cadeira, em pregos na parede ou por cima da cama.
Algumas vezes, uma ou outra garota que se sentisse bem comida dava uma leve
organizada no quarto, mas era muito raro.
Podia-se andar descalço pelo quarto, mas não pelo resto da casa que estava
imunda. Não importava quantas vezes fosse limpa, estava sempre suja. Talvez
pelo fato de fazermos festinhas todos os dias. O dinheiro era escasso, mas os
amigos brotavam. Muitas vezes acompanhados de uma garrafa de vodka e suco em
pó, que misturávamos à agua e acrescentando vodka embebedava qualquer um e, era
isso que importava: embebedar.
Eu sempre fui mais quieto, mais na minha. Estava sempre no quarto,
escrevendo em um laptop velho e com ‘headphones’ escutando trashmetal: Um ritmo
que considero inspirador. Meu terceiro livro já havia sido publicado, mas não
vendera nada. Então, eu precisava fazer serviços ‘freelancer’ pra descolar
alguns trocos. Ao menos para a comida. Duas refeições ao dia.
Ao menos não havia baratas na casa. O que livrava minhas coisas um
pouco. Quando o cheiro de roupa suja estava muito forte, e eu não conseguia
mais encontrar roupas sem cheiro de suor para usar, era neste momento em que me
preocupava em procurar onde lavar minhas roupas.
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